Cerca de 30 pessoas participaram de intercâmbio de experiências realizado pelo Projeto Recupera Caatinga no município de Lagoa Grande, sertão pernambucano

Para quem mora na região semiárida do país, o principal desafio consiste em conviver com o clima caracterizado por apresentar altas temperaturas e chuvas irregulares. Apesar das dificuldades encontradas, o agricultor Ivo Lopes desenvolveu estratégias eficazes que garantem a produção de alimentos saudáveis para o consumo utilizando os recursos hídricos disponíveis na sua propriedade.

Tanta sabedoria precisava ser compartilhada com algumas famílias do quilombo de Inhanhum, município de Santa Maria da Boa Vista (PE), durante um intercâmbio realizado recentemente pelo Projeto Recupera Caatinga. A iniciativa é desenvolvida pelo Centro de Habilitação e Apoio ao Pequeno Agricultor do Araripe (Chapada) e tem o patrocínio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental.

A ideia era que homens, jovens e mulheres participantes da atividade pudessem conhecer experiências exitosas de agricultura familiar e uso de tecnologias sociais para serem replicadas pelas famílias, considerando a realidade vivenciada nas comunidades tradicionais. O Assentamento Santa Marta possui uma vegetação semelhante a dos quilombos de Santa Maria da Boa Vista, além de Ivo ter se tornado uma referência na localidade por experimentar, de maneira permanente, técnicas sustentáveis de convivência com o semiárido. Esta afirmação justificou a escolha do agricultor para receber o intercâmbio e apresentar as ações implantadas na sua unidade produtiva.

Na ocasião, o anfitrião levou o grupo para uma caminhada no entorno da propriedade e mostrou os plantios em consórcio. Ficou evidenciada a viabilidade da prática que permite cultivar frutíferas e hortaliças no mesmo local, aproveitando a umidade do solo. Ainda durante a visita na propriedade de Ivo, os visitantes observaram o plantio de mandacaru sem espinhos - uma cactácea bastante utilizada como alimento fornecido aos animais, como também conheceram os bancos de proteína existentes, que correspondem a uma área destinada para produção de forragem. Com o manejo adequado, Ivo mostrou que é possível fazer o estoque e garantir a alimentação dos caprinos nos períodos mais críticos de estiagem, utilizando a forragem verde ou seca, que pode ser feita de partes das plantas a exemplo de folhas e galhos.

O agricultor também explicou sobre a sua experiência com a criação animal antes e depois de conhecer as práticas agroecológicas de convivência com o semiárido. Na oportunidade, ele mostrou sua cisterna-calçadão, uma tecnologia hídrica que armazena até 52 mil litros de água para produção de alimentos e criação de pequenos animais.

Para a técnica de campo do Projeto Recupera Caatinga, Luana Batista, o intercâmbio mostrou possibilidades que propiciam segurança alimentar e geração de renda na caatinga. “As famílias quilombolas vivenciaram na prática os ensinamentos oferecidos durante as atividades de formação do projeto. Além disso, a troca de experiências contribuiu para que as famílias de Inhanhum pudessem ampliar conhecimentos sobre agroecologia e conscientização ambiental”, afirma.

Ainda durante a visita, o grupo ouviu atentamente a experiência de Ivo com o associativismo e o acesso a programas de comercialização, que contribuem no orçamento familiar a partir da venda do excedente da produção de frutíferas, hortaliças, e da carne de caprino a um preço mais justo.

A produção de mudas combinada com a preocupação em recuperar a mata ciliar do riacho que corta a propriedade também foi uma questão discutida com os visitantes. “O que mais me chamou atenção durante a visita foi a questão da diversidade presente no ambiente familiar, pois mesmo sendo localizada numa área de difícil acesso à água, não foi impedimento para Ivo ter um quintal produtivo agroecológico e os agrossistemas bem interligados”, destaca uma das participantes, Caroline Alves.

Na programação do intercâmbio também teve uma visita até a Feira Agroecológica de Lagoa Grande. Na oportunidade, o grupo de produtores/as de hortaliças e frutíferas falou sobre as conquistas coletivas alcançadas e as estratégias utilizadas no controle de pragas e doenças na produção familiar. Além disso, os participantes de Inhanhum puderam compreender os desafios de comercializar o ano inteiro e fidelizar a clientela, assim como aproveitaram para adquirir alimentos livres de insumos químicos.